Toca do Jacaré: um pouco de assunto sério

Buenos Aires, 15 de Fevereiro de 2006 - A gigante americana do setor de biotecnologia Monsanto conseguiu que autoridades alfandegárias da União Européia (UE) arrestassem mais um navio de farelo de soja argentina, suspeito de ter sido produzido a partir de grãos transgênicos piratas. O navio está detido na Espanha, confirmou a Secretaria da Agricultura da Argentina. Trata-se do terceiro navio a ser detido na Espanha este ano. Uma carga foi retida recentemente na Grã-Bretanha. Outros dois navios foram detidos na Dinamarca e Holanda em 2004. A Monsanto pede às autoridades alfandegárias da UE que inspecionem o conteúdo dessas cargas em um esforço para demonstrar que contêm produtos de soja derivados de uma semente transgênica produzida pela empresa. A empresa detém uma patente na UE sobre a semente conhecida como soja Roundup Ready, mas não na Argentina. Isso conduziu à detenção temporária dos navios, e em alguns casos forçou os exportadores a pagar uma taxa de US$ 15 por tonelada. Segundo a Monsanto, a taxa é uma forma de compensação, já que a maioria dos produtores da Argentina não paga pelo direito de usar as sementes, utilizadas ilegalmente no plantio de 95% da soja argentina.
O governo Kirchner alega que a Monsanto não tem direito legal de cobrar os produtores rurais. A Argentina exportou 11 milhões de toneladas de produtos de soja para o bloco europeu no ano passado. A receita auferida foi de US$ 2 bilhões em embarques para a Europa, segundo a Secretaria de Agricultura. Ontem, duas entidades representantes dos exportadores e da indústria criticaram abertamente a Monsanto pela forma como vem pressionando o governo argentino a resolver a questão do pagamento da taxa tecnológica sobre a soja transgênica. "O Centro dos Exportadores de Grãos e a Câmara de Oleaginosas da Argentina rejeitam a atitude agressiva da Monsanto contra os participantes da cadeia da soja na disputa do pagamento dos royalties", segundo comunicado conjunto das duas entidades.